"E o verbo carne se fez e morou entre nós, e vimos a glória dele, glória como do único (Filho) do Pai, cheio de graça e de verdade" (Jo 1.14).[1]
Essa passagem clássica do evangelho de João constitui-se um dos textos mais belos de toda a Bíblia. Nela, João fala sobre o misterioso acontecimento da encarnação.
Do ponto de vista da apologética, a declaração "e o verbo se fez carne (...)" é um repúdio definido contra todo e qualquer ensinamento gnóstico, tanto no que se refere à natureza do Logos, quanto no que diz respeito à natureza física humana.[2] Uma das crenças básicas do gnosticismo era que a matéria era inerentemente má.[3] Sendo assim, a idéia de que o Cristo pré-encarnado (o Logos) se uniu à matéria (se fez carne) seria uma idéia inconcebível para qualquer gnóstico.
Além disso, chama a nossa atenção o fato de João dizer que o verbo se fez "carne". João poderia ter dito que o verbo se fez corpo (gr. soma), uma palavra que seria mais polida para se referir ao elemento físico de Jesus, adquirido quando de sua encarnação. Porém, em vez disso, João usa a palavra carne (gr. sarks), termo este que está repleto de conotações negativas. Aliás, a palavra carne, no pano-de-fundo do Antigo Testamento, por exemplo, faz alusão à parte mais inferior, perecível e corruptível do homem.[4] Todavia, para que possamos apreciar melhor essa união entre Logos e sarks, cito aqui as inspiradas palavras de John Owen:Essa passagem clássica do evangelho de João constitui-se um dos textos mais belos de toda a Bíblia. Nela, João fala sobre o misterioso acontecimento da encarnação.
Do ponto de vista da apologética, a declaração "e o verbo se fez carne (...)" é um repúdio definido contra todo e qualquer ensinamento gnóstico, tanto no que se refere à natureza do Logos, quanto no que diz respeito à natureza física humana.[2] Uma das crenças básicas do gnosticismo era que a matéria era inerentemente má.[3] Sendo assim, a idéia de que o Cristo pré-encarnado (o Logos) se uniu à matéria (se fez carne) seria uma idéia inconcebível para qualquer gnóstico.
"Assim como o fogo estava na sarça que Moisés viu, igualmente a plenitude da deidade habitava corporalmente em Cristo, que foi feito carne e habitou entre nós. (...) O eterno fogo da natureza divina habitou na sarça da frágil natureza humana, contudo a natureza humana não foi consumida".[5]
Outro aspecto que deve ser salientado é o verbo morou: "o verbo se fez carne e morou (...)". Aqui, o verbo usado para "morou" é o verbo grego eskenosen, derivado de eskenoo, "viver numa tenda, estabelecer-se". Tal vocábulo dá a entender que "a carne de Jesus Cristo é a nova localização da presença de Deus na terra; Jesus substitui o antigo tabernáculo".[6] Em outras palavras, poderíamos traduzir o início de Jo 1.14 assim: "E o verbo se fez carne e tabernaculou (montou tabernáculo) entre nós (...)". Javé, que havia dito a Davi nas páginas do Antigo Testamento: "andei em tenda e em tabernáculo" (2 Sm 7.6), acaba encontrando o fim de sua peregrinação terrena no último de seus tabernáculos: a carne humana.
Finalmente, assim como depois da construção do tabernáculo, a glória de Deus o encheu (Ex 40.34), da mesma forma, após o Logos "ter montado a Sua tenda entre os humanos" (através da encarnação de Cristo), nós "vimos a sua glória"!
Àquele que quis se parecer conosco para que nós pudéssemos nos parecer com Ele, glória e louvor para todo o sempre!!
Carlos Augusto Vailatti
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[1] Minha tradução do texto.
[2] CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado: versículo por versículo. Vol.2. São Paulo, Candeia, 1995, p.272.
[3] ERICKSON, Millard J. Conciso Dicionário de Teologia Cristã. Rio de Janeiro, Juerp, 1995, p.74.
[4] CHAMPLIN, Russell Norman. Op.Cit., p.273.[5] OWEN, John. A Glória de Cristo. São Paulo, Pes, 1989, p.24.
[6] RIENECKER, Fritz & ROGERS, Cleon. Chave Lingüística do Novo Testamento Grego. São Paulo, Vida Nova, 1995, p.162.
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