por Carlos Augusto Vailatti
De uns tempos pra cá, temos assistido ao
ressurgimento de uma antiga filosofia, cujo mote principal diz: "O
importante é ser feliz". Esse antigo pensamento hedonista já bastante
gasto tem se apresentado hoje com novos "trajes", novos
"disfarces" e novo "layout". Entretanto, apesar da nova
"fachada" e da nova "roupagem", o conteúdo continua sendo exatamente
o mesmo: o antigo hedonismo, mas agora com uma "capa" e
"cara" novas.
Livros como "O Sucesso é Ser
Feliz", de Roberto Shinyashiki e "A Arte da Felicidade", do
Dalai Lama, entre vários outros, nos mostram que a velha e almejada busca pela
felicidade encontra-se em alta na "Bolsa de Valores" do coração
humano. Afinal de contas, quem é que não deseja ser feliz?! Porém, este assunto
nos aponta uma importante questão: o que queremos dizer com
"felicidade"?
Em nossos dias, muitos confundem
"hedonismo" com "felicidade". Porém, estes dois pólos não
são a mesma coisa. O hedonismo identifica o BEM com a FELICIDADE. E a "felicidade
hedonista", por sua vez, é definida pela presença do PRAZER e,
simultaneamente, pela ausência da DOR. Portanto, a filosofia hedonista diz em
linhas gerais o seguinte: "Só se vive uma vez na vida. Então, você tem que
desfrutar o máximo possível de tudo aquilo que te proporciona prazer".
Alguns, neste afã de serem felizes a todo custo, acabam, inclusive, aderindo à
filosofia do "politicamente correto" (para eles) segundo a qual "os
fins justificam os meios". Isto é, "vale tudo" para ser feliz!
"Tudo" mesmo. Como se esse pensamento equivocado já não bastasse, o
problema ainda se agrava mais quando confundimos "aquilo que nos
proporciona prazer" com o próprio bem. Além disso, o problema também se
mostra sério quando a felicidade se torna um fim em si mesma.
Contudo, segundo a
Bíblia, a felicidade não é um fim em si. Antes, a verdadeira felicidade humana
é apenas um instrumento que aponta para algo maior, ou seja, a glória de Deus. Em
hebraico, a palavra 'ésher,
"felicidade, bem-aventurança" é derivada da raiz 'shr (álef-shin-resh),
"ir direto ou avançar". Então, a "bem-aventurança" ou a 'felicidade"
consiste no ato de alguém "avançar na compreensão e nos caminhos de Deus,
não virando nem para a direita e nem para a esquerda" (Salmo1:1). Já no
Novo Testamento, as palavras de Jesus proferidas no Sermão do Monte também
refletem os conceitos de felicidade presentes no Antigo Testamento. No Sermão
do Monte Jesus emprega nove vezes o adjetivo makárioi, "abençoados,
afortunados, felizes". Jesus diz que "felizes", "abençoados"
ou "bem-aventurados" são os pobres de espírito, os que choram, os
mansos, os sedentos por justiça, os misericordiosos, os limpos de coração, os pacificadores
e os perseguidos e injuriados por causa do Seu nome (Mateus 5:3-16). Jesus
ainda nos lembra que a pessoa verdadeiramente "abençoada" ou
"feliz" é aquela que crê nEle (João 20:29).
Dessa forma, a
verdadeira felicidade não reside nas coisas deste mundo em si, pois estas são
apenas dons de Deus, advindos da Sua mão. A verdadeira felicidade só pode ser
encontrada quando nossos pensamentos, atos e aspirações convergem para a glória
de Deus. Aliás, como bem lembrou John Wesley: "Não há felicidade a não ser
em Deus". Assim, o segredo para se obter a verdadeira felicidade foi
sintetizado formidavelmente por Paulo, quando disse: "Portanto, quer
comais, quer bebais ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de
Deus". (1 Coríntios 10:31). Desse modo, se realmente quisermos alcançar a
verdadeira felicidade, segundo os padrões de Deus, antes de realizarmos
qualquer obra deveríamos sempre nos fazer a seguinte pergunta: "Isso
glorifica a Deus?".