terça-feira, 30 de abril de 2013

O TANQUE DE BETESDA E A SOBREVIVÊNCIA DO MAIS APTO

por Carlos Augusto Vailatti

Foi o filósofo inglês Herbert Spencer (1820-1903) quem cunhou a famosa expressão "sobrevivência do mais apto" para se referir às constantes lutas pela sobrevivência entre os seres vivos, nas quais apenas os mais "aptos" ou os mais "capazes" se sagram vencedores e, assim, conseguem perpetuar a sua espécie. Aliás, esse pensamento filosófico-biológico, com perdão pelo anacronismo, pode ser encontrado em João 5:1-7.

A filosofia da "sobrevivência do mais apto" está por trás da crença retratada no relato joanino sobre o tanque de "Betesda", segundo a qual apenas "o primeiro" a descer nas águas do tanque, após a sua movimentação realizada por um anjo, "sarava de qualquer enfermidade que tivesse" (João 5:4). Quão irônico era o nome daquele tanque! O nome "Betesda" vem do hebraico, Bet, "Casa" + Hésed, "bondade, misericórdia". Porém, segundo a crença popular citada no relato joanino, somente os "primeiros colocados" tinham direito a usufruir dessa "bondade" e dessa "misericórdia" presentes na "Casa da Misericórdia"! A "lógica" do tanque de Betesta não premiava o segundo e terceiro lugares, respectivamente, com as medalhas de prata e bronze. Nada disso! No pódio desumano e injusto de Betesda só havia lugar para um ganhador, o medalhista de ouro. Apenas o corredor mais veloz, o Usain Bolt hierosolimitano que chegasse na frente dos outros, teria direito a erguer o "troféu da cura". Os demais "concorrentes", infelizes perdedores "inaptos", eram simplesmente desclassificados, uma vez que não havia lugar para eles no "ranking de um homem só" de Betesda.

Nesse cenário desprovido de qualquer misericórdia, onde apenas os corredores mais velozes eram premiados, aparece um homem paralítico anônimo que há 38 anos buscava ser o primeiro colocado naquela maratona desigual pela cura, mas que havia sempre fracassado (João 5:5). Segundo o próprio relato desse pobre homem: "enquanto eu vou, desce outro 'antes' de mim" (João 5:7).

Depois de tamanha dor e sofrimento experimentados por aquele pobre paralítico, Jesus entra em cena e acaba com toda a ideologia filosófico-biológica da "sobrevivência do mais apto" que permeava a crença popular daquela região. Jesus diz àquele homem: "Queres ficar são?" (João 5:6). Então, depois de ouvir o seu lamento, Jesus lhe disse: "Levanta-te, toma a tua cama e anda" (João 5:8). Em outras palavras, Jesus estava dizendo o seguinte para aquele homem: "Você não precisa ser o primeiro colocado para alcançar o favor de Deus".

A principal lição que Jesus quer nos transmitir nesse texto é que o favor divino não depende dos méritos humanos. Dito de outro modo, Deus não recompensa os mais aptos, os mais capazes ou os mais santos usando como critério a sua "competência". Muito pelo contrário! No "pódio de Deus", há sempre um lugar reservado para os medalhistas de prata, bronze, latão etc. Aliás, quem põe a medalha no pescoço do "corredor" durante essa grande São Silvestre da vida é a conhecida "assistente" de Deus, Sua Graça! Portanto, os "desclassificados" segundo os critérios e padrões humanos sempre encontrarão "um lugar à sombra" junto à Presença divina. Se em Betesda, a "lógica" predominante era a da "sobrevivência do mais apto", no "pódio" da graça, o pensamento dominante diz que "não é dos ligeiros a carreira, nem dos valentes, a peleja, nem tampouco dos sábios, o pão, nem ainda dos prudentes, a riqueza, nem dos inteligentes o favor, mas (...) o tempo e a sorte pertencem a todos" (Eclesiastes 9:11).

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