terça-feira, 30 de abril de 2013

PRESCIÊNCIA X LIVRE-ARBÍTRIO

por Carlos Augusto Vailatti

O Rabi Akiva (I/II Séc. d.C.) disse: "Tudo está previsto [por Deus], mas foi dado [ao homem] o livre-arbítrio" (em hebraico, "hakol tsafuy, weharshut netunâ"). Akiva, talvez sem o saber, tocou num dos assuntos mais paradoxais da teologia cristã (e da teologia judaica também, é claro!), a saber: a onisciência ou presciência divina versus o livre-arbítrio humano.

Normalmente, somos tentados a pensar que se Deus já sabia ontem que nós pecaríamos hoje, então nós não poderíamos ter outra escolha, a não ser pecar. Ou seja, nossas ações já estariam predestinadas. Porém, o paradoxo teológico proposto por Akiva (há aproximadamente 1300 anos antes de João Calvino e Jacó Armínio surgirem) nos diz que Deus já sabe qual será a nossa escolha, mas, ainda assim, por mais absurdo que isso possa parecer, nós ainda temos total liberdade em nossa escolha.

O que Akiva está dizendo é que o conhecimento divino antecipado do futuro, por si só, não interfere em nossas ações. Em outras palavras, como Deus é eterno e, portanto, todas as coisas existem diante dEle numa espécie de "eterno presente", logo, Deus conhece o futuro não porque Ele determina certas forças que controlam e determinam a escolha, mas porque, para Ele, o acontecimento ainda futuro da escolha que iremos fazer já está acontecendo (perante Ele) durante o Seu " eterno presente ", agora mesmo.

Seria Akiva um defensor de um tipo de pré-arminianismo judaico? Em hipótese alguma! Teria Armínio sorvido suas ideias de Akiva? Pouco provável. De qualquer modo, independentemente da corrente teológica que adotarmos, uma coisa é certa: "a dialética entre o Calvinismo e o Arminianismo está determinada a acontecer ad infinitum na Teologia. Porém, você continua sendo totalmente livre para entrar ou não no debate".

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