sábado, 4 de maio de 2013

O IMPORTANTE É SER FELIZ

por Carlos Augusto Vailatti


De uns tempos pra cá, temos assistido ao ressurgimento de uma antiga filosofia, cujo mote principal diz: "O importante é ser feliz". Esse antigo pensamento hedonista já bastante gasto tem se apresentado hoje com novos "trajes", novos "disfarces" e novo "layout". Entretanto, apesar da nova "fachada" e da nova "roupagem", o conteúdo continua sendo exatamente o mesmo: o antigo hedonismo, mas agora com uma "capa" e "cara" novas. 


Livros como "O Sucesso é Ser Feliz", de Roberto Shinyashiki e "A Arte da Felicidade", do Dalai Lama, entre vários outros, nos mostram que a velha e almejada busca pela felicidade encontra-se em alta na "Bolsa de Valores" do coração humano. Afinal de contas, quem é que não deseja ser feliz?! Porém, este assunto nos aponta uma importante questão: o que queremos dizer com "felicidade"?


Em nossos dias, muitos confundem "hedonismo" com "felicidade". Porém, estes dois pólos não são a mesma coisa. O hedonismo identifica o BEM com a FELICIDADE. E a "felicidade hedonista", por sua vez, é definida pela presença do PRAZER e, simultaneamente, pela ausência da DOR. Portanto, a filosofia hedonista diz em linhas gerais o seguinte: "Só se vive uma vez na vida. Então, você tem que desfrutar o máximo possível de tudo aquilo que te proporciona prazer". Alguns, neste afã de serem felizes a todo custo, acabam, inclusive, aderindo à filosofia do "politicamente correto" (para eles) segundo a qual "os fins justificam os meios". Isto é, "vale tudo" para ser feliz! "Tudo" mesmo. Como se esse pensamento equivocado já não bastasse, o problema ainda se agrava mais quando confundimos "aquilo que nos proporciona prazer" com o próprio bem. Além disso, o problema também se mostra sério quando a felicidade se torna um fim em si mesma.


Contudo, segundo a Bíblia, a felicidade não é um fim em si. Antes, a verdadeira felicidade humana é apenas um instrumento que aponta para algo maior, ou seja, a glória de Deus. Em hebraico, a palavra 'ésher, "felicidade, bem-aventurança" é derivada da raiz 'shr (álef-shin-resh), "ir direto ou avançar". Então, a "bem-aventurança" ou a 'felicidade" consiste no ato de alguém "avançar na compreensão e nos caminhos de Deus, não virando nem para a direita e nem para a esquerda" (Salmo1:1). Já no Novo Testamento, as palavras de Jesus proferidas no Sermão do Monte também refletem os conceitos de felicidade presentes no Antigo Testamento. No Sermão do Monte Jesus emprega nove vezes o adjetivo makárioi, "abençoados, afortunados, felizes". Jesus diz que "felizes", "abençoados" ou "bem-aventurados" são os pobres de espírito, os que choram, os mansos, os sedentos por justiça, os misericordiosos, os limpos de coração, os pacificadores e os perseguidos e injuriados por causa do Seu nome (Mateus 5:3-16). Jesus ainda nos lembra que a pessoa verdadeiramente "abençoada" ou "feliz" é aquela que crê nEle (João 20:29). 


Dessa forma, a verdadeira felicidade não reside nas coisas deste mundo em si, pois estas são apenas dons de Deus, advindos da Sua mão. A verdadeira felicidade só pode ser encontrada quando nossos pensamentos, atos e aspirações convergem para a glória de Deus. Aliás, como bem lembrou John Wesley: "Não há felicidade a não ser em Deus". Assim, o segredo para se obter a verdadeira felicidade foi sintetizado formidavelmente por Paulo, quando disse: "Portanto, quer comais, quer bebais ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus". (1 Coríntios 10:31). Desse modo, se realmente quisermos alcançar a verdadeira felicidade, segundo os padrões de Deus, antes de realizarmos qualquer obra deveríamos sempre nos fazer a seguinte pergunta: "Isso glorifica a Deus?".

quarta-feira, 1 de maio de 2013

REFLEXÕES SOBRE O TRABALHO

por Carlos Augusto Vailatti

Segundo a Bíblia, o trabalho é uma criação divina. Aliás, é bom lembrar que o trabalho surge na Bíblia 'antes' da queda do homem no pecado (cf. Gênesis 2:15) e, segundo o Novo Testamento, "os trabalhos" (em grego, "tà érga") dos cristãos os acompanham, mesmo depois de sua morte (Apocalipse 14:13). Sendo assim, o trabalho é uma bênção, e não uma maldição, como muitos infelizmente costumam enxergá-lo. A palavra "trabalho", na Bíblia, vem do hebraico ma'aseh, "obra, ação, trabalho", a qual é oriunda da raiz verbal 'ayin-sin-hê, "fazer, criar" e do grego érgon, cujo significado é semelhante. Contudo, a visão negativa que muitos têm sobre o trabalho se deve, principalmente, à forma como este passou a ser visto no Ocidente. A palavra "trabalho", no Ocidente, é derivada do latim tripalium (tri, "três" + palus, "pau"), que era o nome dado a um instrumento de tortura romano formado por "três paus" entrecruzados, os quais eram colocados no pescoço dos escravos a fim de torturá-los. Sendo assim, no Ocidente a ideia de trabalho adquiriu conotações essencialmente ruins e negativas, uma vez que ficou associada à escravidão. Porém, a perspectiva bíblica sobre o trabalho é essencialmente positiva. Jó, por exemplo, disse que "o homem nasce para o trabalho" (Jó 5:7). E o próprio Jesus declarou: "Meu Pai [Deus] trabalha até agora, e eu trabalho também" (João 5: 17). Diante disso, só posso concluir com as palavras de Paulo: "Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor" (1 Coríntios 15:58).