Tempos atrás, estive pensando sobre algumas “pérolas” que de vez em quando são “despejadas” de nossos púlpitos sobre os fiéis e acabei chegando à seguinte conclusão: Haja “estômago de avestruz” para comer tanto “cardápio” estranho! É isso mesmo! Os crentes de muitas igrejas por aí têm “comido” de tudo ultimamente e, o que é pior, não têm reclamado de nenhum problema “estomacal” ou “digestivo”! Acho que isso ocorre porque o “organismo” já acostumou com o tipo de “comida” servida...
Bem, acredito que seja do conhecimento de todos o fato de que o avestruz é uma ave que, se você deixar, come de tudo o que encontra pela frente. Ela não somente se alimenta de pequenos répteis, animais e pássaros, dentre outros, mas também possui um paladar, eu diria, bem exótico, pois também come pedrinhas, parafusos, pregos, pedacinhos de madeira, pequenos objetos etc. Em outras palavras, ela não seleciona o que irá comer. Pelo contrário, come a primeira bugiganga que encontra pela frente. Na verdade, acho um verdadeiro milagre tais aves comerem de tudo e ainda continuarem vivas! Entretanto, o que eu quero ressaltar neste texto é que existem muitos “crentes avestruzes” em nossas igrejas. São crentes que não “selecionam” aquilo que ouvem, encarando facilmente o primeiro “prato” que aparece pela frente. Também acho um verdadeiro milagre tais pessoas continuarem vivas, mesmo depois de terem engolido tantas “porcas”, “parafusos”, “metais” e outros objetos esquisitos. Abaixo, menciono alguns dos variados “cardápios” que têm sido oferecidos em nossas igrejas, à moda de um restaurante:
SEGUNDA-FEIRA (Cardápio: Deus não deixará faltar NADA na sua vida!). Texto Base: “O Senhor é o meu pastor, nada me faltará” (Sl 23.1).
Em geral, muitos pregadores pregam assim esse texto: “Irmãos, Deus não irá permitir que falte nada na sua vida! Não irá faltar a sua bênção, a sua vitória, a sua cura, a sua casa própria, o seu carro etc”. Contudo, o texto não está se referindo a nenhuma dessas coisas! O texto original diz: “O Senhor meu pastor, não me faltará”. Não são “coisas” ou “bens” que não me faltarão, mas “o Senhor”! O Senhor não me faltará! Quer que eu te prove isso? Pois bem. Você já ficou triste alguma vez? Se a resposta for “sim”, então isto significa que a alegria já lhe faltou. Já ficou desempregado (a)? Então, o emprego lhe faltou. Já ficou doente? Então a saúde lhe faltou. Já ficou extremamente irritado (a) e nervoso (a)? Então, a paz lhe faltou. Já teve o seu carro ou algum outro objeto roubado? Então, aquilo lhe faltou. Por favor, entenda o que eu quero dizer: Certas “coisas” podem vir a faltar na vida do crente, mas “o Senhor” jamais faltará! Você pode ter falta de recursos financeiros, mas continuará tendo o Senhor! Pode ter falta de saúde, mas continuará tendo o Senhor! Pode ter falta de uma casa própria, mas continuará tendo o Senhor! Pode ter falta de um belo carro do ano, mas continuará tendo o Senhor! Aliás, foi ele mesmo quem nos disse isso em Mateus 28.20b: “e eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos”. Em suma, uma coisa é certa: posso ter coisas e posso também ser privado delas, mas de uma coisa eu sei: o Senhor não me faltará!
TERÇA-FEIRA (Cardápio: Deus irá agir AGORA MESMO na sua vida!). Texto Base: “Cantai a Deus, cantai louvores ao seu nome; (...) pois o seu nome é Já (...)” (Sl 68.4).
Creio que você já deve ter ouvido algum pregador dizer por aí mais ou menos o seguinte: “Meu irmão, Deus tem pressa de agir na sua vida, porque ele é o Deus de já!”. Ou então: “Deus não irá deixar o seu milagre pra amanhã, não. O seu milagre vai chegar hoje, pois Deus é o Deus de já!”. Como as antigas versões da Bíblia de João Ferreira de Almeida traziam no final do Sl 68.4 a frase: “pois o seu nome é Já”, muitos pregadores acabaram entendendo esse “Já” (e muitos ainda entendem assim) de forma temporal, ou seja, ele se refere ao “hoje” e ao “agora”. Porém, o “Já” ao qual o texto está se referindo é o próprio Senhor, cujo nome abreviado em hebraico é “Yah” (de “Yahweh”). Acontece que ao traduzir esse texto, João Ferreira de Almeida preferiu aportuguesar o termo para “Já” (de “Jahweh”). Porém, muitos pregadores ao ignorarem este fato acabaram entendendo Deus equivocadamente como um Ser que é imediatista, isto é, Alguém que age na nossa vida “num estalar de dedos” e que resolve os nossos problemas “num minuto”. Tais pregadores confundem Deus com aquele macarrão instantâneo, o Miojo, que em 3 minutos fica pronto. Esses pregadores se esquecem, por exemplo, de que Isaque teve que orar durante 20 anos para que a sua mulher, Rebeca, que era estéril, pudesse engravidar (Gn 25.20,21, 26b). O "Deus de Já" não o atendeu imediatamente em sua oração. Portanto, não se esqueça de que o “Deus de Já” poderá demorar ainda um pouquinho mais.
QUARTA-FEIRA (Cardápio: O DIABO E OS DEMÔNIOS não têm poder contra a Igreja, porque as portas do inferno não prevalecerão contra ela!). Texto Base: “(...) edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18).
Com raras exceções, muitos pregadores interpretam esse verso da seguinte maneira: “O diabo e os demônios não têm nenhum poder contra a igreja, porque está escrito que as portas do inferno não prevalecerão contra ela!”. Eles fazem isso porque associam a palavra “inferno” que aparece aqui com o capeta! Embora seja verdade o fato de que a igreja de Cristo é vitoriosa sobre o diabo e os demônios, porém, o presente texto não está tratando desse assunto! A palavra traduzida aqui como “inferno” é a palavra grega hades, uma referência ao “mundo dos mortos, a morte”. Portanto, o que Jesus está dizendo é que “a morte” não tem mais domínio sobre a igreja! Não há nenhuma referência a demônios nesse texto. Aliás, esse tema da vitória da igreja sobre a morte também é encontrado em 1 Co 15.54b,55: “Tragada foi a morte na vitória. Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno (Gr. thanate, “morte”), a tua vitória?”.
QUINTA-FEIRA (Cardápio: Não importa O TAMANHO da sua fé!). Texto Base: “e Jesus lhes disse: (...) em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: passa daqui para acolá – e há de passar; e nada vos será impossível” (Mt 17.20).
Você também já deve ter ouvido algum pregador dizer algo parecido com isso: “Irmão, não importa se a sua fé é do tamanho de um grão de mostarda. A sua fé, mesmo sendo bem pequena, agrada a Deus!”. Nada está tão longe da verdade quanto esta declaração! Aliás, basta ver textos como, por exemplo, Mt 6.30; 8.26 e 14.31 para chegar a essa conclusão. É claro que Deus deseja que sejamos cheios de fé. Além do mais, tanto em Mt 17.20 como em Lc 17.6 Jesus disse aos discípulos: “se tiverdes fé COMO UM GRÃO de mostarda”, e não: “se tiverdes fé DO TAMANHO de um grão de mostarda”, o que é algo totalmente diferente. A primeira frase: “COMO um grão de mostarda”, está se referindo à qualidade do grão. Os melhores agricultores já tentaram, em vão, fazer o cruzamento do grão de mostarda com outras sementes, mas não conseguiram. A semente de mostarda não aceita se misturar (não aceita se tornar híbrida) com outras sementes de espécies diferentes! Logo, a fé genuína é aquela que, como a semente de mostarda, não aceita se misturar a outras crenças e filosofias estranhas. É esse tipo de fé genuína e “sem misturas” que move montanhas!
SEXTA-FEIRA (Cardápio: Você PODE TODAS AS COISAS no Senhor!). Texto Base: “Posso todas as coisas naquele que me fortalece” (Fp 4.13).
Esse é um dos “dizeres-chave” de muitos pregadores Brasil afora. Já ouvi tais pregadores vociferarem muitas vezes do púlpito as seguintes palavras: “Meu irmão, não aceite essa doença, esse desemprego, essa luta ou esse problema na sua vida. Ponha a sua fé em ação e creia em Deus, pois você pode todas as coisas naquele que te fortalece!”. O problema básico é que o contexto de Fp 4.13 ensina justamente o contrário! Nesta passagem, o apóstolo Paulo declara: “12Sei estar abatido, e sei também ter abundância; em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade. 13Posso todas as coisas naquele que me fortalece”(Fp 4.12.13). Aqui, o apóstolo Paulo confessa: “posso todas as coisas”, isto é, “posso passar por revezes na vida, posso sofrer adversidades e posso experimentar vicissitudes, mas também posso desfrutar de momentos agradáveis, felizes e prazerosos”. Paulo está querendo dizer que na vida nós teremos muitos “altos e baixos”, mas Deus nos fortalecerá em cada uma destas situações!
SÁBADO (Cardápio: NÃO HÁ TRISTEZA diante da presença de Deus!). Texto Base: “No seu pescoço pousa a força; perante ele, até a tristeza salta de prazer” (Jó 41.22).
Já tive a infelicidade e o desprazer de ouvir vários pregadores dizerem: “Irmão, que cara é essa? Tire essa tristeza do seu rosto, porque está escrito na Bíblia que diante de Deus até a tristeza salta de alegria!”. Aqui nos deparamos novamente com um sério problema: a falta de leitura do contexto da passagem bíblica. Se os pregadores que ensinam tais coisas se dessem ao trabalho de ler todo o capítulo 41 do livro de Jó, eles já perceberiam nos primeiros versos que Deus está se referindo aqui ao leviatã (ou crocodilo) em todo o capítulo (cf. Jó 41.1ss)! Sendo assim, esses pregadores “promoveram” o crocodilo de Jó 41.22 ao “posto” de Deus! Com o perdão pelo trocadilho, (pedindo licença para usar uma gíria juvenil) esta interpretação é uma verdadeira “crocodilagem”!
DOMINGO (Cardápio: Jesus tomou as chaves DA MÃO DO DIABO!). Texto Base: “E tenho as chaves da morte e do inferno” (Ap 1.18).
Finalmente, para fechar a semana com “chave de ouro”, nada melhor do que uma “pregação de poder” que exalta a Jesus (será?) e põe o diabo no seu devido lugar. Creio que muitas pessoas já tiveram a experiência de chegar quase ao “êxtase espiritual” depois de ouvirem o pregador dizer mais ou menos o seguinte: “Igreja, quando Jesus morreu, Ele desceu ao inferno, pregou aos espíritos em prisão, depois se dirigiu a Satanás e arrancou as chaves da morte e do inferno das mãos dele! Hoje, o diabo é tão coitado, que ele não tem nem mesmo as chaves da própria casa (o inferno), porque Jesus as tirou da sua mão!!”. É curioso notar que essa “afirmação teológica ungida” encontra o seu reflexo até mesmo em nossa hinologia contemporânea, na qual podemos achar, inclusive, uma música que traz o seguinte refrão: “Jesus veio ao mundo / Desafiou as trevas e venceu / E com poder e força / Tomou as chaves da mão do diabo / E o diabo tremeu, e o inferno tremeu / Ó satanás tu tremeste / E até hoje tu tremes/ Jesus já venceu na cruz”. A pergunta que faço é: onde está escrito na Bíblia que Jesus tomou as chaves da morte e do inferno da mão do diabo? A Bíblia diz em Hb 2.14 que Jesus se encarnou e foi crucificado para que, através da Sua morte, “aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo”. Porém, em momento algum a Bíblia afirma que o diabo tinha em seu poder as chaves da morte e do inferno e que Jesus as tomou de sua mão como que por meio de algum tipo de “luta” ou “combate”. O que ocorreu foi que a morte e a ressurreição de Jesus desferiram um golpe letal contra satanás, pois, por meio delas, Jesus conquistou a libertação total para todos aqueles que resolverem crer nele. Contudo, quando Ap 1.18 diz que Jesus tem “as chaves da morte e do inferno”, isto se refere ao fato de que na cultura judaica daquela época as chaves eram vistas como sinal indicativo de autoridade (cf. Mt 16.19). O inferno (gr. Hades) é o “lugar” onde os mortos estão. Portanto, isto significa dizer que a morte não pode mais amedrontar o povo de Deus, pois Jesus é o possuidor das chaves, ou seja, Ele tem o poder e a autoridade para “abrir” os túmulos e para conduzir os mortos à vida eterna.
Bem, espero sinceramente que este “menu” tenha servido para “abrir o seu apetite” das Escrituras!
Em Cristo,
Autor: Carlos Augusto Vailatti
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