segunda-feira, 6 de abril de 2009

Moisés Usou Drogas?!

(Charlton Heston representando "Moisés" no filme Os Dez Mandamentos, de Cecil B. DeMille)

Tempos atrás, li uma notícia deveras inusitada em um jornal de circulação bastante popular na cidade de São Paulo. Após refletir sobre o assunto tratado nesse jornal, resolvi publicar o texto lido e tecer as minhas críticas pessoais sobre o mesmo. Segue o texto, bem como a sua crítica:

Moisés Usou Alucinógeno, Afirma Cientista Israelense

O especialista em psicologia cognitiva Benny Shanon, da Universidade Hebraica de Jerusalém, afirma que Moisés, considerado o principal profeta da religião judaica, pode ter ingerido uma substância semelhante à ayhuasca, conhecida no Brasil como chá do Santo Daime. A afirmação foi publicada em um artigo na revista de filosofia "Time and Mind" e causou polêmica em Israel. A idéia de que Moisés poderia estar sob a influência de "drogas" provocou a indignação de líderes religiosos em Israel e, segundo os críticos, a teoria de Shanon "é uma ofensa ao maior profeta do povo judeu". Segundo Shanon, a criação dos Dez Mandamentos poderia ser conseqüência de uma experiência com substâncias psicotrópicas, que alteram o estado cognitivo do indivíduo e se encontram em plantas existentes no deserto do Sinai. Foi nesse local que, segundo a tradição, Moisés teria recebido as Tábuas da Lei, consideradas a base da civilização judaico-cristã. Uma das obras de Shanon, o livro "Antipodes of the Mind", que analisa a relação entre a ayhuasca e a origem das religiões, foi publicado pela Oxford University Press, uma das editoras mais renomadas do mundo.[1]

Crítica Pessoal ao Pensamento de Shanon

Após a leitura desse texto, algumas observações devem ser feitas, as quais destaco abaixo:

Primeira, a opinião de Shanon de que Moisés teria sido um "usuário de drogas" (pedindo licença para empregar um jargão bem atual) não reflete, em hipótese alguma, um consenso acadêmico. Trata-se de uma opinião ultra-liberal que visa polemizar a figura de Moisés e que também possui objetivos editoriais/panfletários, isto é, objetiva a vendagem de livros, principalmente livros que envolvem assuntos relacionados à religião, os quais estão em alta já faz algum tempo nas prateleiras das livrarias de todo o mundo.

Segunda, ao dizer que Moisés poderia ter produzido o Decálogo influenciado pelo uso de drogas, Shanon demonstra total falta de conhecimento quanto à influência do Código de Hamurábi sobre o Decálogo, sendo que o Código de Hamurábi data de época anterior à deste (cerca de 1700 a.C.) e, ao que tudo indica, influenciou grandemente não só a formulação dos Dez Mandamentos, mas também a composição da legislação israelita como um todo.

Terceira, se Moisés tivesse, de fato, ingerido substâncias alucinógenas como sugere Shanon, tal fato comprometeria totalmente o seu raciocínio lógico e a sua capacidade de julgar as demandas existentes entre o povo de Israel, função esta desempenhada por ele, por exemplo, em Êxodo 18.

Quarta, a teoria de que Moisés teria usado substâncias psicotrópicas não encontra nenhum paralelo em toda a Bíblia, tanto nas páginas do AT quanto nas páginas do NT. Tal hipótese encontra sim paralelo, mas na cultura grega, através das profetisas que usavam alucinógenos a fim de poderem proferir seus oráculos àqueles que as consultavam e também na figura dos xamãs, os quais pertenciam a antigas civilizações.

Quinta, se há alguém que usou drogas nessa história, com certeza não foi Moisés, mas sim o próprio Shanon, que, em sua visita ao Brasil em 1991, experimentou o chá do Santo Daime pela primeira vez no Acre. Aliás, o próprio Shanon declara ter experimentado esse chá mais de 100 vezes![2] E depois, ainda "dizem" que foi Moisés quem usou drogas?!

E em sexto e último lugar, o próprio Shanon se define como alguém "sem-religião".[3] Sendo assim, não é de admirar que as suas declarações sejam desmedidas e absolutamente equivocadas. Tais declarações são próprias daqueles que não têm nenhum compromisso com Deus e nenhuma relação com o sagrado.

Abraços,

Autor: Carlos Augusto Vailatti
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[1] Jornal Metro, São Paulo, quinta-feira, 6 de março de 2008, p.7.
[2] Notícia publicada pela BBC Brasil em: http://oglobo.globo.com, de 04/03/2008.
[3] Idem.

Um comentário:

  1. Muito bom...
    Moises não era muito normal mesmo...rsrsrsrs....mas falar em drogas é ir longe demais. O psicologo deve ter ficado com sequelas do chá...

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