quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

O Deus de "Já"

A tradução da Bíblia de João Ferreira de Almeida, em sua edição revista e corrigida (conhecida também pela sigla: ARC), infelizmente ainda continua a causar alguns transtornos para os leitores mais desatentos. Dentre os vários exemplos que poderíamos citar, menciono o seguinte:

"Cantai a Deus, cantai louvores ao seu nome; louvai aquele que vai sobre os céus, pois o seu nome é JÁ; e exultai diante dele". (Sl 68.4 - ARC, Imprensa Bíblica Brasileira, 74ª Impressão, 1991).

Tempos atrás, ao conversar com um homem, ele me disse: "Irmão, eu estou pedindo uma bênção para Deus e creio que ele atenderá o meu pedido logo, porque a Bíblia diz que ele é o Deus de Já". E, por mais incrível que possa parecer, há muitas outras pessoas em várias igrejas que têm o mesmo pensamento equivocado: "Deus é o Deus de já". Ora, creio que diante disso algumas considerações se façam necessárias a fim de ajudarmos a corrigir esse tipo de pensamento errôneo:

1ª) João Ferreira de Almeida, ao traduzir este verso do original hebraico para o português, acabou dando uma "aportuguesada" na transliteração do nome sagrado, isto é, em vez de manter yah (forma contraída de Iavé, "Senhor") no texto, ele adaptou o termo para "Já", trocando o "Y" por "J" e omitindo o "H";

2ª) O título yah é uma referência ao nome abreviado de Iavé (como dito antes), e não uma indicação de que Deus age sempre "depressa";

3ª) Saindo do ponto de vista lingüístico e entrando na perspectiva teológica, é extremamente perigoso acharmos que Deus é o "Deus de já". Esse imediatismo cronológico (com o perdão pela tautologia) pode nos levar a pensar equivocadamente que Deus sempre irá responder as nossas orações ou irá agir em determinadas áreas de nossa vida "neste momento, agora, imediatamente, num piscar de olhos, num estalar de dedos, já!". Talvez, a velocidade com que estamos acostumados a ver as coisas acontecerem à nossa volta nos dias atuais seja a grande responsável por esse desejo imediatista que nos consome. Hoje, ao simples aperto do botão "Enter", milhares de informações se descortinam diante de nossos olhos no computador em fração de segundos. Ao colocarmos duas moedinhas de R$1,00 na máquina de refrigerante, rapidamente recebemos a nossa Coca-Cola gelada. E quando aparece a fome, então? Bem, basta nos dirigirmos a um fast food ("comida rápida"), e tudo está resolvido. Todavia, deve ser dito que o "Deus de Já" não é o Deus da Bíblia, pois este último não criou os céus e a terra num "passe de mágica" (embora pudesse fazê-lo se o quisesse), mas os criou em seis dias (Gn 1.31-2.1). Isaque teve que orar durante 20 anos para que a sua mulher, Rebeca, que era estéril, pudesse engravidar (Gn 25.20,21, 26b). O "Deus de Já" não o atendeu imediatamente em seu pedido. Aliás, Deus só resolveu revelar seu Filho à humanidade a cerca de pouco mais de dois mil anos atrás. Por que o "Deus de Já" não fez isso antes, aliás, bem antes?! Ora, a verdade é que Deus não tem pressa alguma, pois ele é Senhor sobre a própria eternidade, sobre o próprio tempo. Nós, sim, que somos finitos, é que queremos que Deus haja rapidamente em nossa vida porque, afinal de contas, nossos dias "são mais velozes do que a lançadeira do tecelão" (Jó 7.6) e a nossa vida "é um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece" (Tg 4.14) e, por isso, não temos tempo a perder.
Porém, devemos ter sempre em mente que o "Deus de Já" pode ainda demorar mais um pouquinho...

Autor: Carlos Augusto Vailatti

Um comentário:

  1. Muito bom o texto.
    Na verdade, tinha conhecimento desta abreviação por causa das letras de Bob Marley..rsrsrs....eles usam bastante o nome "Jah". De qualquer maneira, é incrível como as pessoas acham as coisas na Bíblia. Acha imaginação.

    Abçs
    Daniel

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