quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Para os (as) interessados (as), a Revista Vértices - periódico acadêmico da área de Estudos Judaicos e Árabes da USP - acabou de publicar o meu artigo mais recente, intitulado:

OS "FILHOS DE DEUS" E AS "FILHAS DO HOMEM": AS VÁRIAS INTERPRETAÇÕES DADAS A GÊNESIS 6:1-4.

O artigo pode ser acessado e baixado gratuitamente nesse link:

http://revistas.fflch.usp.br/vertices/article/view/1459/1453.

Espero que gostem do texto.

Abraços!

Carlos Augusto Vailatti

sábado, 4 de maio de 2013

O IMPORTANTE É SER FELIZ

por Carlos Augusto Vailatti


De uns tempos pra cá, temos assistido ao ressurgimento de uma antiga filosofia, cujo mote principal diz: "O importante é ser feliz". Esse antigo pensamento hedonista já bastante gasto tem se apresentado hoje com novos "trajes", novos "disfarces" e novo "layout". Entretanto, apesar da nova "fachada" e da nova "roupagem", o conteúdo continua sendo exatamente o mesmo: o antigo hedonismo, mas agora com uma "capa" e "cara" novas. 


Livros como "O Sucesso é Ser Feliz", de Roberto Shinyashiki e "A Arte da Felicidade", do Dalai Lama, entre vários outros, nos mostram que a velha e almejada busca pela felicidade encontra-se em alta na "Bolsa de Valores" do coração humano. Afinal de contas, quem é que não deseja ser feliz?! Porém, este assunto nos aponta uma importante questão: o que queremos dizer com "felicidade"?


Em nossos dias, muitos confundem "hedonismo" com "felicidade". Porém, estes dois pólos não são a mesma coisa. O hedonismo identifica o BEM com a FELICIDADE. E a "felicidade hedonista", por sua vez, é definida pela presença do PRAZER e, simultaneamente, pela ausência da DOR. Portanto, a filosofia hedonista diz em linhas gerais o seguinte: "Só se vive uma vez na vida. Então, você tem que desfrutar o máximo possível de tudo aquilo que te proporciona prazer". Alguns, neste afã de serem felizes a todo custo, acabam, inclusive, aderindo à filosofia do "politicamente correto" (para eles) segundo a qual "os fins justificam os meios". Isto é, "vale tudo" para ser feliz! "Tudo" mesmo. Como se esse pensamento equivocado já não bastasse, o problema ainda se agrava mais quando confundimos "aquilo que nos proporciona prazer" com o próprio bem. Além disso, o problema também se mostra sério quando a felicidade se torna um fim em si mesma.


Contudo, segundo a Bíblia, a felicidade não é um fim em si. Antes, a verdadeira felicidade humana é apenas um instrumento que aponta para algo maior, ou seja, a glória de Deus. Em hebraico, a palavra 'ésher, "felicidade, bem-aventurança" é derivada da raiz 'shr (álef-shin-resh), "ir direto ou avançar". Então, a "bem-aventurança" ou a 'felicidade" consiste no ato de alguém "avançar na compreensão e nos caminhos de Deus, não virando nem para a direita e nem para a esquerda" (Salmo1:1). Já no Novo Testamento, as palavras de Jesus proferidas no Sermão do Monte também refletem os conceitos de felicidade presentes no Antigo Testamento. No Sermão do Monte Jesus emprega nove vezes o adjetivo makárioi, "abençoados, afortunados, felizes". Jesus diz que "felizes", "abençoados" ou "bem-aventurados" são os pobres de espírito, os que choram, os mansos, os sedentos por justiça, os misericordiosos, os limpos de coração, os pacificadores e os perseguidos e injuriados por causa do Seu nome (Mateus 5:3-16). Jesus ainda nos lembra que a pessoa verdadeiramente "abençoada" ou "feliz" é aquela que crê nEle (João 20:29). 


Dessa forma, a verdadeira felicidade não reside nas coisas deste mundo em si, pois estas são apenas dons de Deus, advindos da Sua mão. A verdadeira felicidade só pode ser encontrada quando nossos pensamentos, atos e aspirações convergem para a glória de Deus. Aliás, como bem lembrou John Wesley: "Não há felicidade a não ser em Deus". Assim, o segredo para se obter a verdadeira felicidade foi sintetizado formidavelmente por Paulo, quando disse: "Portanto, quer comais, quer bebais ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus". (1 Coríntios 10:31). Desse modo, se realmente quisermos alcançar a verdadeira felicidade, segundo os padrões de Deus, antes de realizarmos qualquer obra deveríamos sempre nos fazer a seguinte pergunta: "Isso glorifica a Deus?".

quarta-feira, 1 de maio de 2013

REFLEXÕES SOBRE O TRABALHO

por Carlos Augusto Vailatti

Segundo a Bíblia, o trabalho é uma criação divina. Aliás, é bom lembrar que o trabalho surge na Bíblia 'antes' da queda do homem no pecado (cf. Gênesis 2:15) e, segundo o Novo Testamento, "os trabalhos" (em grego, "tà érga") dos cristãos os acompanham, mesmo depois de sua morte (Apocalipse 14:13). Sendo assim, o trabalho é uma bênção, e não uma maldição, como muitos infelizmente costumam enxergá-lo. A palavra "trabalho", na Bíblia, vem do hebraico ma'aseh, "obra, ação, trabalho", a qual é oriunda da raiz verbal 'ayin-sin-hê, "fazer, criar" e do grego érgon, cujo significado é semelhante. Contudo, a visão negativa que muitos têm sobre o trabalho se deve, principalmente, à forma como este passou a ser visto no Ocidente. A palavra "trabalho", no Ocidente, é derivada do latim tripalium (tri, "três" + palus, "pau"), que era o nome dado a um instrumento de tortura romano formado por "três paus" entrecruzados, os quais eram colocados no pescoço dos escravos a fim de torturá-los. Sendo assim, no Ocidente a ideia de trabalho adquiriu conotações essencialmente ruins e negativas, uma vez que ficou associada à escravidão. Porém, a perspectiva bíblica sobre o trabalho é essencialmente positiva. Jó, por exemplo, disse que "o homem nasce para o trabalho" (Jó 5:7). E o próprio Jesus declarou: "Meu Pai [Deus] trabalha até agora, e eu trabalho também" (João 5: 17). Diante disso, só posso concluir com as palavras de Paulo: "Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor" (1 Coríntios 15:58).

terça-feira, 30 de abril de 2013

O LADO "FEMININO" DE DEUS

por Carlos Augusto Vailatti 
 
Uma das mais belas palavras da Bíblia é a palavra "misericórdia". Essa palavra, em hebraico, é derivada do substantivo rahamim, "misericórdia, compaixão". Acontece que a palavra rahamim é derivada de outra palavra, réhem, que significa "útero". E a palavra réhem, por sua vez, vem de uma raiz hebraica que significa "proteger do perigo". Então, quando a Bíblia fala sobre a "misericórdia" divina (por exemplo, em: Gn 43:14; Êx 33:19; Dt 13:17; 1 Rs 8:50; Jr 42:12 etc), ela está retratando a Deus como se Ele fosse uma mulher! É isso mesmo! Assim como uma mulher, quando está grávida, age com compaixão e amor para com o seu filho e o protege de todos os perigos externos através do maravilhoso abrigo do seu útero, da mesma forma a Bíblia emprega essa linguagem uterina-feminina-maternal para descrever o sentimento de misericórdia e de verdadeiro amor que Deus tem por cada um de nós, seres humanos. Sendo assim, embora Deus seja um Ser espiritual e, portanto, assexuado (João 4:24), contudo, não há como não ficar maravilhado diante desse Seu magnífico "lado feminino"! Belíssima metáfora essa, não?!

LÚCIFER, OS CRISTÃOS E... O QUE EU TENHO A VER COM ISSO?

por Carlos Augusto Vailatti

Até o século IV da nossa era, o nome latino "Lúcifer" (do latim, Luciferus, de "lux, lucis", "luz" + "fero", de "ferre", "trazer", ou seja, "aquele que traz a luz" / "portador de luz") gozava de boa reputação. Aliás, havia até um bispo cristão chamado "São Lúcifer", cujos seguidores eram conhecidos como "luciferianos"! Porém, após Orígenes (III Século d.C.) ter identificado Lúcifer com Satanás (em sua interpretação de Isaías 14:12), o nome "Lúcifer" acabou perdendo prestígio e passou a ser associado desde então com o mal.

Temo que o mesmo possa estar ocorrendo com o termo "cristão" nos dias atuais. Hoje, o nome "cristão" (do grego, christianós, "aquele que pertence a Cristo" / "aquele que segue a Cristo") não tem sido condizente com o comportamento de muitos que se dizem "seguidores de Cristo". Em nossos dias, o comportamento mercenário de muitos "pastores", a visão mercantilista de muitas "igrejas", a indústria da fé fomentada por muitos "líderes", a filosofia de vida utilitarista pregada muitos "crentes" e a adesão cega aos valores do mundo por parte de muitos "fiéis", dentre outros, têm descaracterizado a face da verdadeira Igreja de Cristo e, por conseguinte, têm ameaçado grandemente a continuidade da existência desse título (bem como, da própria Igreja!) do qual tanto nos orgulhamos, isto é, o título de "cristãos".

Na Europa e em várias outras partes do mundo, devido à baixíssima influência exercida pela Igreja em seu meio, já se fala há algum tempo de uma sociedade "pós-cristã", isto é, uma sociedade que já não sente mais o mesmo impacto do cristianismo como sentiu outrora, no passado. Esse cristianismo caricato e, portanto, absolutamente irrelevante, vivido por muitos, tem sido o verdadeiro responsável por ameaçar não apenas a sobrevivência do nome "cristão", mas também dos próprios portadores desse nome.

Hoje, o nome "Lúcifer", apesar de seu belíssimo significado e de sua questionada associação com Satanás, foi identificado de forma irreversível com o mal. E o responsável por essa identificação foi um cristão, Orígenes. Se continuarmos a viver esse tipo de "cristianismo descristianizado" ou, se preferir, esse "cristianismo sem Cristo", temo que em breve, nós, cristãos, também seremos responsáveis por estarmos classificados junto com os dinossauros como mais uma espécie que já está em extinção. O que está em jogo, é muito mais do que uma mera ameaça de uma possível mutação semântica. Na verdade, é a nossa própria sobrevivência que está em jogo.

ISAÍAS E O RELATIVISMO MORAL DE SUA ÉPOCA

por Carlos Augusto Vailatti 
 
"Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal! Que fazem da escuridade luz, e da luz, escuridade, e fazem do amargo doce, e do doce, amargo!" (Isaías 5:20).

Isaías, um antigo profeta (mas não um "profeta antigo") que viveu muito à frente de seu tempo, já protestava no VII Século a.C. (portanto, há cerca de 2700 anos!) contra o relativismo moral presente em sua época. Isaías criticou severamente aqueles que invertiam os valores morais da sociedade de seu tempo e que, portanto, contribuíam na promoção de uma conduta confusa e desorientada por parte do público comum. Parece que ele estava descrevendo os nossos dias ao fazer tal protesto. Que sujeito visionário! Que precocidade profética! 

Hoje, vivemos em uma sociedade plural que está situada em uma emaranhada e complexa cadeia de pensamentos, ideologias, filosofias e religiões. Respeitar toda a forma de "diversidade" e de "pluralismo" é a palavra de ordem do momento. Essa é a agenda do "politicamente correto". Contudo, toda essa pluralidade social, cultural, lingüística, filosófica, ideológica, teológica etc experimentada por nós, pode nos induzir facilmente ao erro, fazendo-nos pensar, quer estejamos conscientes disso ou não, que não há uma fronteira nítida entre o certo e o errado, entre o honesto e o desonesto e entre o bem e o mal. Esse tipo de pensamento pode nos conduzir a um relativismo ideológico e a uma "política de boa vizinhança forçada" que pode favorecer o florescimento de pensamentos, tais como, o já desgastado e equivocado: "o que é verdade pra você pode não ser verdade pra mim". Ou seja, a verdade acaba sendo relativizada. Sendo assim, todo mundo está certo! E, Logo, se todos estão certos, então não podemos discordar da opinião dos outros sob o risco de sermos tachados de intolerantes, preconceituosos, fundamentalistas, além de recebermos tantos outros rótulos semelhantes a estes ou piores.

Em nossos dias, em nome do "respeito às idéias alheias" (mesmo que estas sejam absurdas!), somos forçados a não emitir a nossa própria opinião sobre um determinado assunto (mesmo que isso implique sacrificar a verdade!), já que cada um tem o direito de ter e expressar a "sua" verdade e, desse modo, somos incentivados a viver com "a síndrome dos três macaquinhos": não vimos nada, não ouvimos nada e também não falamos nada.

Hoje, vivemos numa verdadeira guerra ideológica, onde a sociedade criou novos vocábulos e eufemismos, na tentativa de redefinir e requalificar antigas práticas bastante conhecidas, tentando assim torná-las mais aceitáveis ou palatáveis diante da opinião pública. Hoje, as "prostitutas" se tornaram "garotas de programa" ou "profissionais do sexo", a "pornografia" virou "nudez artística", a "promiscuidade" se transformou em "amizade colorida" e o "homossexualismo" virou "homoafetividade", entre outros. Por outro lado, o "pecado" se transformou há muito tempo em "bobagem", em "coisa de gente atrasada", ou em "assunto de gente ignorante". Essa linguagem sutil, repleta de eufemismos e, portanto, recheada de "armadilhas verbais", foi implacavelmente combatida por Isaías. Ele disse: "Ai daqueles que pervertem os valores morais, atribuindo a uma coisa o seu sentido contrário ou não correspondente!".

Que Deus nos ajude a nos posicionarmos de forma crítica (sem nos tornarmos intolerantes, preconceituosos e desumanos, é claro!) diante de todas as informações que chegarem ao nosso conhecimento. Além disso, que Deus nos ajude, acima de tudo, a entendermos que há absolutos morais e éticos dos quais jamais conseguiremos fugir e os quais não devem ser relativizados em hipótese alguma. Por isso, a advertência feita pelo profeta Isaías em um passado distante tem ecoado ainda no tempo presente e é tão verdadeira e válida para os dias hoje tal como o fora nos séculos passados.

PECAR É "DAR MANCADAS COM DEUS"


por Carlos Augusto Vailatti
 
Quando falo sobre o pecado, gosto de definí-lo a partir da sua raiz etimológica latina. Sabe-se que o verbo português "pecar" é derivado do latim "peccare", que, em seu uso primitivo, significava: "fazer passo em falso, perder o pé, e, portanto, cair, falando-se dos cavalos e outras montarias; depois, figuradamente, o verbo veio a fazer referência ao mau passo moral, errar, cometer falhas". Essa palavra tem ligação com a palavra latina "pecus", que significa: "pé defeituoso, pé incapaz de percorrer o caminho". Em outras palavras, "pecar" é "coxear, manquejar, capengar". Por isso, a partir dessas informações linguísticas, gosto de definir "pecado" como "o ato de dar mancadas com Deus". Dito de outra maneira, quando pecamos estamos dando um "passo em falso" em nossa relação com o Senhor.

 Esses dados talvez nos ajudem a entender algumas afirmações feitas pelo salmista em vários Salmos, tais como:

 "Tirou-me de um lago horrível, de um charco de lodo; pôs os meus pés sobre uma rocha, firmou os meus passos" (Salmo 40:2);

"pois tu livraste a minha alma da morte, como também os meus pés de tropeçarem, para que eu ande diante de Deus na luz dos viventes" (Salmo 56:13);

"Bendizei, povos, ao nosso Deus e fazei ouvir a voz do seu louvor; ao que sustenta com vida a nossa alma e não consente que resvalem os nossos pés" (Salmo 66:8-9);

 "Quanto a mim, os meus pés quase que se desviaram; pouco faltou para que escorregassem os meus passos" (Salmo 73:2);

"Porque tu, Senhor, livraste a minha alma da morte, os meus olhos das lágrimas e os meus pés da queda" (Salmo 116:8);

"Lâmpada para os meus pés é tua palavra e luz, para o meu caminho" (Salmo 119:105).

Ora, Àquele que é Poderoso para guardar os nossos passos e para nos impedir de "dar mancadas com Ele" sejam o Louvor e a Glória para sempre!